Minhas palavras de hoje são dirigidas aos que
ingressam nos estudos espiritistas, tangidos pelos azorragues impiedosos do
sofrimento; no auge das suas dores, recorreram ao amparo moral que lhes oferecia
a doutrina e sentiram que as tempestades amainavam... Seus corações
reconhecidos voltaram-se então para as coisas espirituais; todavia, os
tormentos não desapareceram. Passada uma trégua ligeira, houve recrudescência
de prantos amargos.
Experimentando as mesmas torturas, sentem-se
vacilantes na fé e baldas do entusiasmo das primeiras horas e é comum
ouvirem-se as suas exclamações: – “Já não tenho mais fé, já não tenho mais
esperanças...” Invencível abatimento invade-lhes os corações tíbios e enfraquecidos
na luta, desamparados na sua vontade titubeante e na sua inércia espiritual.
Essas almas não puderam penetrar o espírito da
doutrina, vogando apenas entre as águas das superficialidades.
O QUE É O MODERNO ESPIRITUALISMO
O moderno Espiritualismo não vem revogar as leis
diretoras da evolução coletiva. As suas concepções avançadas representam um
surto evolutivo da Humanidade, uma época de mais compreensão dos problemas da
vida, sem oferecer talismãs ou artes mágicas, com a pretensão de derrogar os estatutos
da Natureza. Desvenda ao homem um fragmento dos véus que encobrem o destino do
ser imortal e ensina-lhe que a luta é o veiculo do seu progresso e da sua
redenção.
Traz consigo o nobre objetivo de enriquecer, com as
suas benditas claridades, os homens que as aceitam, longe da vaidade de
prometer-lhes fortunas e gozos terrestres, bens temporais que apenas servem
para fortificar as raízes do egoísmo em seus corações, agrilhoando-os ao potro
das gerações dolorosas.
NECESSIDADE DO ESFORÇO PRÓPRIO
Pergunta-se, às vezes, por que razão não obstam os
Espíritos esclarecidos, que em todos os tempos acompanham carinhosamente a
marcha dos acontecimentos do orbe, as guerras que dizimam milhões de
existências e empobrecem as coletividades, influenciando os diretores de
movimentos subversivos nos seus planos de gabinete; inquire-se o porquê das
existências amarguradas e aflitas de muitos dos que se dedicam ao Espiritismo,
dando-lhes o melhor de suas forças e sempre torturados pelas provas mais
amargas e pelos mais acerbos desgostos. Daqui, contemplamos melancolicamente
essas almas desesperadas e desiludidas, que nada sabem encontrar além das
puerilidades da vida.
Em desencarnando, não entra o Espírito na posse de
poderes absolutos. A morte significa apenas uma nova modalidade de existência,
que continua, sem milagres e sem saltos.
É necessário encarar-se a situação dos
desencarnados com a precisa naturalidade. Não há forças miraculosas para os
seres humanos, como não existem igualmente para nós. O livre-arbítrio relativo
nunca é ab-rogado em todos nós; em conjunto, somos obrigados, em qualquer plano
da vida, a trabalhar pelo nosso próprio adiantamento.
A PRECE
Faz-se preciso que o homem reconheça a necessidade
da luta como a do pão cotidiano.
A crença deve ser a bússola, o farol nas
obscuridades que o rodeiem na existência passageira e a prece deve ser
cultivada, não para que sejam revogadas as disposições da lei divina, mas a fim
de que a coragem e a paciência inundem o coração de fortaleza nas lutas
ásperas, porém necessárias.
A alma, em se voltando para Deus, não deve ter em
mente senão a humildade sincera na aceitação de sua vontade superior.
AOS ENFRAQUECIDOS NA LUTA
Almas enfraquecidas, que tendes, muitas
vezes,sentido sobre a fronte o sopro frio da adversidade, que tendes vertido
muitos prantos nas jornadas difíceis em estradas de sofrimentos rudes, buscai
na fé, os vossos imperecíveis tesouros.
Bem sei a intensidade da vossa angústia e sei de
vossa resistência ao desespero. Ânimo e coragem! No fim de todas as dores,
abre-se uma aurora de ventura imortal; dos amargores experimentados, das lições
recebidas, dos ensinamentos conquistados à custa de insano esforço e de penoso
labor, tece a alma sua auréola de eternidade gloriosa; eis que os túmulos se
quebram e da paz cheia de cinzas e sombras, dos jazigos, emergem as vazes
comovedoras dos mortos. Escutai-as!... elas vos dizem da felicidade do dever
cumprido, dos tormentos da consciência nos desvios das obrigações necessárias.
Orai, trabalhai e esperai. Palmilhai todos os
caminhos da prova com destemor e serenidade. As lágrimas que dilaceram, as
mágoas que pungem, as desilusões que fustigam o coração, constituem elementos
atenuantes da vossa imperfeição, no tribunal augusto, onde pontifica o mais
justo, magnânimo e integro dos juízes. Sofrei e confiai, que o silêncio da
morte é o ingresso para uma outra vida, onde todas as ações estão contadas e
gravadas as menores expressões dos nossos pensamentos.
Amai muito, embora com amargos sacrifícios, porque
o amor é a única moeda que assegura a paz e a felicidade no Universo.
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