Os maiores obstáculos, para que
se propaguem no seio das sociedades modernas os ensinamentos salutares e
proveitosos do Consolador, são constituídos pelas imensas barreiras que lhes
levantam os dogma e preconceitos de todos os matizes, nas escolas científicas e
facções religiosas, militantes em todas as partes do Globo.
AÇÕES
PERTURBADORAS
Muitos espíritos, afeitos ao
tradicionalismo intransigente e rotineiro, são incapazes de conceber a estrada
ascensional do progresso, como de fato ela é, cheia de lições novas e crescentes
resplendores; é assim que, completando as longas fileiras de retardatários, perturbam,
às vezes, a paz dos que estudam devotamente no livro maravilhoso da Vida, com
as suas opiniões disparatadas, prevalecendo-se de certas posições mundanas, abusando
de prerrogativas transitórias que lhes são outorgadas pelas fortunas iníquas.
Não conseguem, porém, mais do que
estabelecer a confusão, sem que as suas mentes egoístas tragam algo de belo, de
novo ou de verdadeiro, que aproveite ao progresso geral. Seus trabalhos se
prestam unicamente às suas experiências pessoais nos domínios do conhecimento,
não conseguindo viver na memória dos pósteros, porquanto a veneração da
posteridade é uma galeria gloriosa reservada, quase que invariavelmente, aos
que passaram na Terra perseguidos e desprezados, e que se impuseram A Humanidade
ofertando-lhe generosamente o fruto abençoado dos seus sacrifícios imensos e
das suas dores incontáveis.
CARACTERÍSTICAS
DA SOCIEDADE MODERNA
Desalentadoras são as características
da sociedade moderna, porque, se a coletividade se orgulha dos seus progressos
físicos, o homem se encontra, moralmente, muito distanciado dessa evolução.
Semelhante anomalia é a consequência inevitável da ignorância das criaturas,
com respeito à sua própria natureza, desconhecimento deplorável que as incita a
todos os desvios. Vivendo apenas entre as coisas relativas à matéria, submergem
nas superficialidades prejudiciais ao seu avanço espiritual. Ignoram, quase que
totalmente, o que sejam as suas forças latentes e as suas possibilidades infinitas,
adormecendo ao canto embalador dos gozos falsos do “eu pessoal”, e apenas os sofrimentos
e as dificuldades as obrigam a despertar para a existência espiritual, na qual reconhecem
quanta alegria dimana do exercício do Bem e da prática da virtude, entre as santas
lições da verdadeira fraternidade.
A CIÊNCIA E
A RELIGIÃO
Infelizmente, se a Ciência e a
Religião constituem as forças matrizes de esclarecimento das almas, vemos uma
empoleirada na negação absoluta e a outra nas afirmações arriscadas e absurdas.
A Ciência criou a academia, e a religião sectarista criou a sacristia; uma e
outra, abarrotadas de dogmas e preconceitos, repelindo-se como polos
contrários, dentro dos seus conflitos têm somente realizado separação em vez de
união, guerra em vez de paz, descrença em vez de fé, arruinando as almas e
afastando-as da luz da verdadeira espiritualidade.
Entre a força de um preconceito e
o atrevimento de um dogma, o espírito se perturba, e, no círculo dessas vibrações
antagônicas, acha-se sem bússola no mundo das coisas subjetivas, concentrando,
naturalmente, na esfera das coisas físicas, todas as suas preocupações.
O TRABALHO
DOS INTELECTUAIS
É por essa razão que de grandes
responsabilidades se investem aqueles que se entregam na Terra aos labores
espirituais sob todos os aspectos em que se nos apresentam; grandes serviços
constam de suas incumbências e elevada conta lhes será solicitada dos seus
afazeres sobre a face do planeta. Dolorosas decepções os aguardam na existência
de além-túmulo, quando menosprezam as suas possibilidades para o bem comum,
fazendo de suas faculdades intelectuais objeto de mercantilismo, em troca de prebendas,
as quais, augurando-lhes um porvir de repouso egoístico na vida transitória, os
fazem estacionários e nocivos às coletividades, o que equivale a existências de
provas amargas, entre prolongadas obliterações dos seus poderes de expressão.
Não é que o artista e o pensador
devam aderir a este ou àquele sistema religioso, ou alistar-se sob determinada
bandeira filosófica; o que se faz mister é compreender a necessidade da tarefa
de espiritualização, trabalhando no edifício sublime do progresso comum,
colaborando na campanha de regeneração e de reforma dos caracteres, auxiliando
todas as idéias nobres e generosas, em qualquer templo, facção ou casta em que
vicejem, espiritualizando as suas concepções, transformando a ação inteligente
num apelo a todos os espíritos para a perfeição, desvendando-lhes os segredos
da beleza, da luz, do bem, do amor, através da arte na Ciência e na Religião,
em suas manifestações mais rudimentares.
Que todos operem na difusão da
verdade, quebrando a cadeia férrea dos formalismos impostos pelas
pseudo-autoridades da cátedra ou do altar, amando a vida terrena com intensidade
e devotamento, cooperando para que se ampliem as suas condições de perfectibilidade,
convencendo-se de que as suas felicidades residem nas coisas mais simples.
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