Embalde os corifeus do ateísmo
propagarão as suas amargas teorias, cujo objetivo é o aniquilamento da idéia da
imortalidade entre os homens; embalde o ensino de novos sistemas de educação,
dentro das inovações dos códigos políticos, tentará sufocá-la, porque todas as
criaturas nascem na Terra com ela gravada nos corações, inclusive os pretensos
incrédulos, cuja mentalidade, não conseguindo solucionar os problemas complexos
da vida, se revolta, imprecando contra a sabedoria suprema, como se os seus gritos
blasfematórios pudessem obscurecer a luz do amor divino, estacando os sublimes mananciais
da vida. Pode a política obstar à sua manifestação, antepondo-lhe forças coercitivas:
a idéia da imortalidade viverá sempre nas almas, como a aspiração latente do Belo
e o do Perfeito.
Acima do poder temporal dos
governantes e da moral duvidosa dos pregadores das religiões, ela continuamente
prosseguirá dulcificando os corações e exaltando as esperanças, porque
significa em si mesma o luminoso patrimônio da alma encarnada, como recordação
perene da sua vida no Além, simbolizando o laço indestrutível que unea
existência terrena à Vida Eterna, vislumbrada, assim, pela sua memória temporariamente
amortecida.
A IDÉIA DE
DEUS
Desde os pródromos da Civilização
a idéia da imortalidade é congênita no homem. Todas as concepções religiosas da
mais remota antigüidade, se bem que embrionárias e grosseiras em suas
exteriorizações, no-la atestam. Entre as raças bárbaras abundaram as idéias
terroristas de um Deus, cuja cólera destruidora se abrandaria à custa dos sacrifícios
humanos e dos holocaustos de sangue, e, por toda a parte, onde homens primitivos
deixaram os vestígios de sua passagem, vê-se o sinal de uma divindade a cuja providência
e sabedoria as criaturas entregavam confiadamente os seus destinos.
A CONSCIÊNCIA
Na história de todos os povos,
observar-se a tendência religiosa da Humanidade; é que, em toda personalidade
existe uma fagulha divina – a consciência, que estereotipa em cada espírito a grandeza
e a sublimidade de sua origem; no embrião, a princípio rude nas suas menores
manifestações, a consciência se vai despindo dos véus de imperfeição e bruteza
que rodeiam, debaixo de muitas vidas do seu ciclo evolutivo, em diferentes círculos
de existência, até que atinja a plenitude do aperfeiçoamento psíquico e o conhecimento
integral do seu próprio “eu”, que, então, se unirá ao centro criador do Universo,
no qual se encontram todas as causas reunidas e de onde irradiará o seu poema
eterno de sabedoria e amor.
É a consciência, centelha de luz
divina, que faz nascer em cada individualidade a idéia da verdade,
relativamente aos problemas espirituais, fazendo-lhe sentir a realidade
positivada vida imortal, atributo de todos os seres da criação.
O ANTROPOMORFISMO
Nos tempos primeiros, como na
atualidade, o homem teve uma concepção antropomórfica de Deus. Nos períodos
primários da Civilização, como preponderavam as leis da força bruta e a
Humanidade era uma aglomeração de seres que nasciam da brutalidade e da
aspereza, que apenas conheciam os instintos nas suas manifestações, a adoração
aos seres invisíveis que personificavam os seus deuses era feita de sacrifícios
inadmissíveis em vossa época. Hodiernamente, nos vossos tempos de egoísmo
utilitário, Deus é considerado como poderoso magnata, a quem se pode peitar com
bajulação e promessa, no seio de muitas doutrinas religiosas.
O CULTO DOS
MORTOS
Dentro, porém, de quase todas as
idéias dessa natureza, no seio das raças primigênias em seus remotíssimos agrupamentos,
o culto dos mortos atinge proporções espantosas. Inúmeras eram as tribos que se
entregavam às invocações dos traspassados, por meio de encantamentos e de
cerimônias de magia. As excessivas homenagens aos mortos, no seio da
civilização dos egípcios, constituem, até em vossos dias, objeto de estudos especiais.
Toda a vida oriental está amalgamada nos mistérios da morte e, no Ocidente, pode-se
reparar, entre as raças primitivas, a do povo celta como a depositária de tradições
longínquas, que dizem respeito à espiritualidade.
A EVOLUÇÃO DOS SISTEMAS
RELIGIOSOS
A idéia da imortalidade é latente
em todas as almas e é o substrato de todas as religiões antigas e modernas.
Os sistemas religiosos, em cada
período de progresso humano, renovam-se na fonte de verdade relativa que
promana do Alto, compatível com a época.
Nos tempos modernos, as idéias
novas, referentes ao espiritualismo e à imortalidade, necessitam difusão por
toda parte. Não mais a concepção de Deus terrível, criando a eternidade dos
tormentos, segundo a teologia em voga, que tem ensinado erradamente a idéia de
um paraíso beatífico, insípido, e um inferno aterrador, irremissivelmente
eterno; não mais a religião que malsina o progresso e a investigação, mas a
idéia pura e verdadeira da imortalidade para todas as criaturas, a vida
estuando em todo o Universo, e a luta em todos os seus mais recônditos
argamassando, à custa dos esforços de cada um, o portentoso edifício da
evolução humana.
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