XVII - SOBRE OS ANIMAIS
Com o desenvolvimento das idéias
espiritualistas no mundo, torna-se um estudo obrigatório, e para todos os dias,
o grande problema que implica o drama da evolução anímica.
Teria sido a alma criada no
momento da concepção, na mulher, segundo as teorias anti-reencarnacionistas?
Como será a preexistência? O espírito já é criado pela potência suprema do
Universo, apto a ingressar nas fileiras humanas? E os pensadores se voltam para
os vultos eminentes do passado. As autoridades católicas valem-se de Tomás de Aquino,
que acreditava na criação da alma no período de tempo que precede o nascimento
de um novo ser, esquecendo-se dos grandes padres da antigüidade, como Orígenes,
cuja obra é um atestado eterno em favor das verdades da preexistência. Outras doutrinas
religiosas buscam a opinião falível da sua ortodoxia e dos seus teólogos, relutando
em aceitar as realidades luminosas da reencarnação. Pascal, escrevendo na adolescência
o seu tratado sobre os cones, e inúmeros Espíritos de escol, laborando coma sua
genialidade precoce nas grandes tarefas para as quais foram chamados à Terra, constituem
uma prova eloqüente, aos olhos dos menos perspicazes e dos estudiosos de mentalidades
tardas no raciocínio, a prol da verdade reencarnacionista.
O homem atual recorda
instintivamente os seus labores e as suas observações do passado. Sua
existência de hoje á a continuação de quanto efetuou nos dias do pretérito. As
conquistas de agora representam a soma dos seus esforços de antanho, e a civilização
é a grande oficina onde cada um deixa estereotipada a própria obra.
A SOMBRA DOS PRINCÍPIOS
Contempla-se, porém, até hoje, a
sombra dos princípios como noite insondável sobre abismos.
Os desencarnados de minha esfera
não se acham indenes, por enquanto, do socorro das hipóteses. A única certeza
obtida é a da imortalidade da vida e como não é possível observar a essência da
sabedoria, sem iniciativas individuais e sem ardorosos trabalhos, discutimos e
estudamos as nobres questões que, na Terra, preocupavam o nosso pensamento.
Um desses problemas, que mais
assombram pela sua singular transcendência, é o das origens. Se na Terra o progresso
humano se verifica, através de dois caminhos, o da Ciência e o da Revelação
espiritual, ainda não encontramos, em identidade de circunstâncias, em nossa
evolução relativa, nenhuma estrada estritamente científica para determinar o
Alfa do Universo, senão a das hipóteses plausíveis. Contudo, saturada da mais
profunda compreensão moral, copiosa é a nossa fonte de revelações, a qual constitui
para nós um elemento granítico, servindo de base à sabedoria de amanhã.
OS ANIMAIS, NOSSOS PARENTES
PRÓXIMOS
Se bem haja no próprio circulo
dos estudiosos dos espaços o grupo dos opositores das grandes idéias sobre o
evolucionismo do princípio espiritual através das espécies, sou dos que o
estudam, atenta e carinhosamente.
Eminentes naturalistas do mundo,
como Charles Darwin, vislumbram grandiosas verdades, levando a efeito preciosos
estudos, os quais, aliás, se prejudicaram pelo excessivo apego à ciência
terrena, que se modifica e se transforma, com os próprios homens; e, dentro das
minhas experiências, posso afirmar, sem laivos de dogmatismo, que oriundos na
flora microbiana, em séculos remotíssimos, não poderemos precisar onde se
encontra o acume as espécies ou da escala dos seres, no pentagrama universal. E,
como o objetivo desta palestra é o estudo dos animais, nossos irmãos inferiores,
sinto-me à vontade para declarar que todos nós já nos debatemos no seu acanhado
círculo evolutivo. São eles os nossos parentes próximos, apesar da teimosia de
quantos persistem em o não reconhecer.
Considera-se, às vezes, como
afronta ao gênero humano a aceitação dessas verdades. E pergunta-se como
poderíamos admitir um princípio espiritual nas arremetidas furiosas das feras
indomesticadas, ou como poderíamos crer na existência de um rio de luz divina
na serpente venenosa ou na astúcia traiçoeira dos carnívoros. Semelhantes
inquirições, contudo, são filhas de entendimento pouco atilado. Atualmente,
precisamos modificar todos os nossos conceitos acerca de Deus, porquanto nos
falece autoridade para defini-lo ou individualizá-lo. Deus existe. Eis a nossa
luminosa afirmação, sem poder, todavia, classificá-lo, em sua essência. Os que
nos interpelam por essa forma, olvidam as histórias de calúnias, de homicídios,
no seio das perversidades humanas. Para que o homem se conservasse nessa
posição especial de perfectibilidade única, deveria apresentar todos os
característicos de uma entidade irrepreensível, dento do orbe onde foi chamado
a viver. Tal não se verifica e, diariamente, comentais os dramas dolorosos da
Humanidade, os assassínios, os infanticídios nefandos, efetuados em
circunstâncias nas quais, muitas vezes, as faculdades imperfeitas dos
irracionais agiriam com maior benignidade e clemência, dando testemunho de melhor conhecimento das leis de
amor que regem o mecanismo do mundo.
A ALMA DOS
ANIMAIS
Os animais têm a sua linguagem,
os seus afetos, a sua inteligência rudimentar, com atributos inumeráveis. São
eles os irmãos mais próximos do homem, merecendo, por isso, a sua proteção e
amparo.
Seria difícil ao médico legista
determinar, nas manchas de sangue, qual o que pertence ao homem ou ao animal,
tal a identidade dos elementos que o compõem. A organização óssea de ambos é
quase a mesma, variando apenas na sua conformação e observando-se diminuta
diferença nas vértebras.
O homem está para o animal,
simplesmente como um superior hierárquico. Nos irracionais desenvolvem-se
igualmente as faculdades intelectuais. O sentimento de curiosidade é, na
maioria deles, altamente avançado e muitas espécies nos demonstram as suas
elevadas qualidades, exemplificando o amor conjugal, o sentimento da paternidade,
o amparo ao próximo, as faculdades de imitação, o gosto da beleza. Para verificar
a existência desses fenômenos, basta que se possua um sentimento acurado de observação
e de análise.
Inúmeros espíritos trouxeram à
luz o fruto de suas pacientes indagações, que são para vós elementos de
inegável valor. Entre muitos, citaremos Darwin, Gratiolet e vários outros estudiosos
dedicados a esses notáveis problemas.
Os mais ferozes animais têm para com
a prole ilimitada ternura. Aves existem que se deixam matar, quando não se lhes
permite a defesa das suas famílias. Os cães, os cavalos, os macacos, os
elefantes deixam entrever apreciáveis qualidades de inteligência. É conhecido o
caso dos cavalos de um regimento que mastigavam o feno para um de seus
companheiros, inutilizado e enfermo. Conta-se que uma fêmea de cinocéfalo,
muito conhecida pela sua mansidão, gostava de recolher os macaquinhos, os gatos
e os cães, dos quais cuidava com desvelado carinho; certo dia, um gato
revoltou-se contra a sua benfeitora, arranhando-lhe o rosto, e a mãe adotiva,
revelando a mais refletida inteligência, examinou-lhe as patas, cortando-lhe as
unhas pontiagudas com os dentes. Constitui um fato observável a sensibilidade
dos cães e dos cavalos ao elogio e às reprimendas.
Longe iríamos com as citações. O
que podemos assegurar é que, sobre os mundos, laboratórios da vida no Universo,
todas as forças naturais contribuem para o nascimento do ser.
TODOS SOMOS IRMÃOS
De milênios remotos. Viemos todos
nós, em pesados avatares.
Da noite dos grandes princípios,
ainda insondável para nós, emergimos para o concerto da vida. A origem
constitui, para o nosso relativo entendimento, um profundo mistério, cuja
solução ainda não nos foi possível atingir, mas sabemos que todos os seres inferiores
e superiores participam do patrimônio da luz universal.
Em que esfera estivemos um dia,
esperando o desabrochamento de nossa racionalidade? Desconheceis ainda os
processos, os modismos dessas transições, etapas percorridas pelas espécies,
evoluindo sempre, buscando a perfeição suprema e absoluta, mas sabeis que um
laço de amor nos reúne a todos, diante da Entidade Suprema do Universo.
É certo que o Espírito jamais
retrograda, constituindo uma infantilidade as teorias da metempsicose dos
egípcios, na antiguidade. Mas, se é impossível o regresso da alma humana ao
circulo da irracionalidade, recebei como obrigação sagrada o dever de amparar
os animais na escala progressiva de suas posições variadas no planeta. Estendei
até eles a vossa concepção de solidariedade e o vosso coração compreenderá, mais
profundamente, os grandes segredos da evolução, entendendo os maravilhosos e doces
mistérios da vida.
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