Não é condenável, sob o ponto de
vista do bom senso, sem quaisquer dogmatismos intransigentes, a dúvida que
levou a Ciência da vossa época a se recolher nas realidades positivas; é claro
que, segundo a opinião religiosa, o materialismo é pernicioso, debaixo de todas
as modalidades em que se nos apresente, mas é necessário vos convencer desde
que em qualquer circunstância predomina sempre a lei do progresso.
O ateísmo reinante deriva dos
abusos dogmáticos que a intransigência de alguns sistemas tem pretendido impor
à consciência humana, livre em suas íntimas expansões. Todavia, na certeza
absoluta da evolução que se realiza, através de todos os óbices interpostos no
seu caminho pela ignorância e pela má-fé, eis que, na atualidade, a própria dúvida
serve de base ao monumento da fé raciocinada do futuro.
O RESULTADO DAS INVESTIGAÇÕES
Vê-se a Ciência no dever de
investigar, de estudar, e, no seu afã incessante de saber, rolam por terra
idéias errôneas, mantidas até hoje como alicerces de todas as suas perquirições,
como, por exemplo, a da teoria da indivisibilidade atômica. Descobrindo centros
imponderáveis de atração, como os electrônios componentes do átomo infinitesimal
e os iônios, atinge a verdade, quanto às teorias da vibração, que preside, na base
da matéria cósmica, a todos os movimentos da vida no Universo.
A ciência infatigável procura,
agora, a matéria-padrão, a força-origem, simplificada, da qual crê emanarem
todos os compostos, e é nesse estudo proveitoso que ela própria, afirmando-se
atéia, descrente, caminha para o conhecimento de Deus.
O FRACASSO DE MUITAS INICIATIVAS
Não são poucos os estudiosos que
procuram investigar os domínios da ciência psíquica, na sede de encontrar o
lado verdadeiro da vida; porém, se muitas vezes acham apenas o malogro das suas
esperanças, o soçobro dos seus ideais, é que se entregam os estudos arriscados
sem preparação prévia para resolver tão altas questões, errando voluntariamente
com espírito de cepticismo, muitas vezes injustificável, já que não é filho de
raciocínio acurado, profundo. O êxito no estudo de problemas tão
transcendentais demanda a utilização de fatores morais, raramente encontrados;
daí a improdutividade de entusiasmos e desejos que podem ser ardentes e
sinceros.
O UTILITARISMO
A ausência de demonstrações histológicas
não implica a inexistência do Espírito. E essa certeza que compete à Ciência
atingir.
Muitos obstáculos, contudo, se
opõem à obtenção desse desiderato, aliando-se ao preconceito acadêmico o
utilitarismo desenfreado que infesta a política e a religião; é ele o maior
inimigo da expansão das verdades espiritualistas no mundo, porque oriundo de interesses
inferiores e mesquinhos. A própria tendência ao ateísmo, imperante em quase todas
as classes sociais, é um derivativo lógico do espírito de interesse, que tem destruído
a beleza dos princípios religiosos, desvirtuados pelo utilitarismo de falsos missionários.
Mas, confiemos na influência do
espiritualismo; em futuro próximo, a sua atuação eminentemente benéfica há de
se fazer sentir, destruindo tudo quanto de nocivo e inútil encontrar em sua
passagem.
Marchamos, pois, para uma época
de crença firme e consoladora, que derramará o bálsamo da fé pura e iluminada
sobre as almas que adorarão o Criador, sem qualquer véu de formalidades
inadequadas e obsoletas.
Semelhantes transformações serão
efetuadas após muitas lutas, que encherão de receios e de espantos os espíritos
encarnados. Lembremo-nos, porém, de que “Deus está no leme”.
É esse o porvir do orbe em que
viveis. Contudo, quanto tempo decorrerá, até que essa nova era brilhe nos
horizontes do entendimento humano? Ignoramos. Conjuguemos, todavia, os nossos
esforços a fim de alcançarmos esse desiderato.
Demonstrai, com o vosso exemplo,
que a luz permanece em vossos corações e cooperareis conosco, em favor dessas
mutações precisas.
Toda reforma terá de nascer no
interior. Da iluminação do coração vem a verdadeira cristianização do lar, e do
aperfeiçoamento das coletividades surgirá o novo e glorioso dia da Humanidade.
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