Há, na alma prestes a regressar à
sua eterna pátria, um modo de sensações desconhecidas.
Nesses olhos nublados de pranto,
num corpo lavado pelo copioso suor da agonia, gangrenado e semi-apodrecido,
onde os órgãos rebeldes, em conflito, são centros das mais violentas e rudes
dores, existe todo um amontoado de mistérios indecifráveis para aqueles que
ficam.
Nesses rápidos minutos, um
turbilhão de pensamentos represa-se nesse cérebro esgotado pelos sofrimentos...
O Espírito, no limiar do túmulo, sente angústia e receio; e, nos estertores de
sua impotência, vê numa continuidade assombrosa de imagens movimentadas, toda
inutilidade das ilusões da vida material. Todas as suas vaidades e enganos
tombam furiosamente, como se um ciclone impiedoso os arrancasse do seu íntimo,
e os que somente para esses enganos viveram sentem-se, na profundeza de suas consciências,
como se atravessassem um deserto árido e extenso; todos os erros do passado
gritam nos seus corações, todos os deslizes se lhes apresentam, e nessa quietude
aparente de uns lábios que se cerram no doloroso ricto da morte, existem brados
de blasfêmia e desesperação, que não escutais, em vosso próprio benefício.
OS QUE SE DEDICAM AS COISAS
ESPIRITUAIS
Nunca nos cansaremos de repetir
que a existência no orbe terreno constitui, para as almas mais ou menos
evolvidas, um estágio de aprendizado ou degredo; junto desses seres sensíveis,
vivem os espíritos retardados no seu adiantamento e aqueles que se encontram no
inicio da evolução. Para todos, porém, a luta é a lei purificadora. Os que
vivem com mais dedicação às coisas do Espírito, esses encontram maiores elementos
de paz e felicidade no futuro; para eles, que sofreram mais em razão do seu afastamento
da vida mundana, a morte é um remanso de tranquilidade e de esperança. Encontrarão
a paz ambicionada nos seus dias de lágrimas torturantes, e sociedades esclarecidas
os esperam em seu seio, para celebrarem dignamente os seus atos de heroísmo na
tarefa árdua de resistência às inúmeras seduções que a existência planetária oferece.
AS ALMAS
TORTURADAS
Quão triste, toda via, é a
situação dos que no mundo se apegaram, demasiadamente, às alegrias mentirosas e
aos prazeres fictícios. Muitos anos de dor os aguardam, nas regiões espirituais,
onde contemplam incessantemente os quadros do seu pretérito, em desoladoras
visões retrospectivas, na posse imaginária das coisas que os obsidiam. Amantes
do ouro, ali ouvem, continuamente, o tilintar de suas supostas moedas;
ingratos, escutam os que foram enganados pelas suas traições; cenas penosas se
verificam e muitas almas piedosas se entregam ao mister de guias e condutores
espirituais desses Espíritos enceguecidos na ilusão e nos tormentos. Só ao amor
dessas almas carinhosas permite que as esperanças não desfaleçam, cultivando-as
incessantemente no coração abatido e desolado dos sofredores, a fim de que
renasçam para os resgates necessários.
A OUTRA VIDA
A vida no além é também
atividade, trabalho, luta, movimento. Se as almas estão menos submetidas ao
cansaço, não combatem menos seu aperfeiçoamento.
A leis das afinidades a tudo
preside, entre os seres despidos dos indumentos carnais, e, liberto o Espírito
dos laços que o agrilhoavam à matéria, recebe o apelo de quantos se afinam
pelas suas preferências e inclinações.
ESPÍRITOS FELIZES
Bem-aventurados todos aqueles
que, ao palmilharem seus derradeiros caminhos, encontram a alvorada da paz,
luminosa e promissora; nos celeiros da luz, recolhem o pão da verdade e da
sabedoria, porque bem souberam cumprir suas obrigações morais.
À sombra das árvores magnânimas
que planaram com seus atos de caridade, de fé e de esperança, repousam a cabeça
dilacerada nos amargores da Terra; divinas inspirações descem das Alturas sobre
suas mentes, que iluminam como tabernáculos sagrados e, interpretando fielmente
as disposições da vontade diretora do Universo, transformam-se em mensageiros
do Altíssimo.
AOS MEUS IRMÃOS
Homens, meus irmãos, considerai a
fração de tempo da vossa passagem pela Terra. Observai o exemplo das almas
nobres que, em épocas diferentes, vos trouxeram apalavra do Céu na vossa
ingrata linguagem; suas vidas estão cheias de sacrifícios e dedicações
dolorosas. Não vos entregueis aos desvios que conduzem ao materialismo dissolvente.
Olhando o vosso passado, que constitui o passado da própria Humanidade, uma
cruciante amargura domina o vosso espírito: atrás de vós, a falência religiosa,
ante os problemas da evolução, impele-vos à descrença a ao egoísmo; muitos se
recolhem nas suas posições de mando e há uma sede generalizada de gozo
material, com perspectiva do nada, que a maioria das criaturas acredita
encontrar no caminho silencioso da morte; mas eis que, substituindo as
religiões que faliram, à falta de cultivadores fiéis, ouve-se a voz do Espírito
da Verdade em todas as regiões da Terra. Os túmulos falam e os vossos
bem-amados vos dizem das experiências adquiridas e das dores que passaram. Há
um sublime conúbio do Céu com a Terra.
Vinde ao banquete espiritual onde
a Verdade domina em toda a sua grandiosa excelsitude. Vinde sem desconfianças,
sem receios, não como novos Tomes, mas como almas necessitadas de luz e de
liberdade; não basta virdes com o espírito de cristicismo, é preciso trazerdes
um coração que saiba corresponder com sentimento elevado a um raciocínio
superior.
Outros mundos vos esperam na
imensidade, onde os sóis realizam os fenômenos de sua eterna trajetória.
Dilatai vossa esperança, porque um dia chegará em que, na Terra, devereis
abandonar o exílio onde chorais como seres desterrados. Que todos vós possais,
no caso da existência, contemplar no céu da vossa consciência estrelas resplandecentes
da paz que representará a vossa glorificação imortal.
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